A Filha do Meu Melhor Amigo

Crítica de Cinema – Texto publicado originalmente no JUDÃO, em 06/09/2013.

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Olha, eu tô parecendo a Jennifer Lopez naquele filmeco em que ela apanha do marido, Nunca Mais: não adiantou nada mudar de nome, mudar de cidade, tentar apagar os vestígios do passado, que o karma se manifestou e o destino mais uma vez bateu à minha porta. Pois é, com apenas uma semana de retorno oficial às atividades de resenhas aqui no Judão, e depois de me enganar com um belo presente de boas-vindas (o excelente Frances Ha – se você ainda não viu, corre para o cinema!), o Borbs me aparece com um filme RUIM. Eu sabia, EU SABIA! E se você não entendeu nada deste primeiro parágrafo, porque há alguns anos atrás estava muito ocupado tendo vida social longe da Internet (hehehe), manda um e-mail para cá e pergunta para o Borbs ou para o Thiago Cardim o que é A-ARCA. Você vai entender. :-)

Tá bom vai, não vamos exagerar. Este A Filha do Meu Melhor Amigo (The Oranges, 2011) não chega a ser exatamente horroroso, pavoroso e afins. Definitivamente não vai lhe causar desejos sinceros de se atirar na frente do primeiro caminhão que porventura estiver passando na rua (!). O problema é que esta comediazinha dramática, que chega aos nossos cinemas com um pouquinho só de atraso com relação à sua estréia gringa, em Outubro de 2012 (o que são onze meses, né?), é tão ausente de atrativos e tão igual a milhares de outras produções deste gênero, que não sei nem o que dizer sem parecer repetitivo. Na falta de uma palavra melhor, digamos que trata-se de uma produção bem incompetente.

Quando digo “incompetente”, quero dizer que A Filha do Meu Melhor Amigo não serve nem pra deixar a gente com raiva. Esta fita, dirigida no piloto automático por um certo Julian Farino (quem?), não desperta nada no espectador além de indiferença. Não cativa, não emociona, não diverte, não faz com que o público simpatize com seus personagens, não faz rir, não faz chorar. Não traz nenhuma inovação ao gênero, não apresenta nenhum bom trabalho de ator, e sua história é tão previsível quanto final de novela das oito. E ainda por cima, quer fazer polêmica com um tema central bem ultrapassado: um romance entre uma garota de vinte e poucos anos e um sujeito com idade para ser seu pai. Isto é polêmica? Este filme foi escrito nos anos 60, é isso?

O curioso é imaginar o que motivou os executivos de estúdio a investir nesta produção. A Filha do Meu Melhor Amigo não é um projeto com potencial que se perdeu no meio do caminho: o roteiro dos semi-estreantes Ian Helfer e Jay Reiss é extremamente burocrático e segue com rigor os parâmetros do subgênero “filmes com famílias perfeitas-porém-disfuncionais que reúnem-se no Dia de Ação de Graças e/ou Natal para lavar roupa suja e descobrir com o espírito natalino que não há nada melhor do que família”, não trazendo nada de novidade para justificar o investimento. E o público respondeu à altura, já que nos EUA, esta fita fechou seu caixa com uma miséria de 370.000 dólares em ingressos… e ainda demorou quase um ano para chegar a outros países… vai entender.

Senão, olha só a trama: no subúrbio de Nova Jersey, duas famílias convivem harmoniosamente. De um lado, o casal formado pelo desligado Terry (Oliver Platt) e Cathy Ostroff (Allison Janney). Do outro, David (Hugh Laurie) e Paige Walling (Catherine Keener). Com os filhos espalhados pelo mundo, exceto a estranha Vanessa (Alia Shawkat), a filha adulta dos Walling que ainda não saiu debaixo da saia da mãe – e que também serve de narradora e ponto focal do filme -, os dois casais saem juntos, jantam juntos e são grandes amigos. Cada um com suas particularidades: Cathy passa os dias ignorando o marido Terry, que é um babacão cheio de manias; e Paige, obcecada por Natal (!) e regente do coral da vizinhança, já não sente mais muita afinidade por David que, embora incomodado com a situação, já se conformou em dormir ocasionalmente no sofá. Ô dó.

A paz reina na vizinhança até a chegada da problemática rebenta dos Ostroff, a descolada e maluquinha Nina (Leighton Meester), que passou alguns anos longe e voltou ao lar para o feriado de Ação de Graças – na verdade, ela só saiu de NY e voltou para “aquele fim de mundo” por uma razão: fugir da humilhação que passou por conta do vistoso galho que recebeu na cabeça como presente do (agora ex) noivo. Enfim, a menina volta para casa e, embora sofra a insistência da mãe para se atirar nos braços do bem-sucedido executivo Toby (Adam Brody), o primogênito dos Walling, ela resolve provocar o caos ao começar a namorar… o pai dele, David. Pequeno detalhe este que desperta a fúria do dragão em Vanessa, que já não era muito fã de Nina desde os tempos de escola, e azeda o relacionamento entre os dois clãs. Mas é claro que o romancezinho do novo casal acenderá algumas “chamas” apagadas em todos os envolvidos, fazendo-os redescobrir os pequenos prazeres da vida…

Interessante o tema, né? Tão interessante que eu até acho qzzzzz… zzzzz… zzzzz…

Pois bem, vamos ao que interessa. Não dá pra entender por que raios ainda perdemos tempo com películas assim, previsíveis até a medula. Todo final de ano aparece meia dúzia de produções idênticas a esta e, na boa, elas nem dizem tanto ao nosso público, visto que nem mesmo temos um Dia de Ação de Graças e nossos costumes “natalinos” são tão diferentes dos costumes dos estadunidenses. Aliás, uma pergunta sem resposta: por qual motivo a distribuidora resolveu lançar este longa nos cinemas, um ano depois de sua estréia (e fracasso) lá fora, e ainda alguns meses longe do Natal? Mistério. Enfim, antes estes fossem os grandes problemas aqui…

Então vamos a eles, os problemas: além da já citada previsibilidade do roteiro e a direção por correspondência, temos em A Filha do Meu Melhor Amigo um caso complicado de “elenco mal aproveitado”. A escolha dos atores é bem equivocada, não pela falta de talento deles – pô, temos aqui no meio Catherine Keener (Quero Ser John Malkovich) e Allison Janney (Beleza Americana), duas excelentes atrizes – mas pela falta de entrosamento. Simplesmente não combinaram. O quarteto de atores veteranos não convence em momento algum e alguns parecem até bastante deslocados, como se tivessem topado participar do filme apenas para pagar algumas contas atrasadas, como é o caso de Oliver Platt (de X-Men: Primeira Classe), um sujeito bem divertido quando bem dirigido. Aqui, em dados momentos, sua performance chega a irritar profundamente.

O caso mais cruel, contudo, é o do casalzinho Hugh Laurie e Leighton Meester. Laurie, já uma lenda na TV por conta de seu trabalho no seriado House, até tenta se virar um pouco. Já Meester, estrela de Gossip Girl, é uma autêntica adepta do método-Kristen-Stewart-de-interpretação (!): seu conceito de emoção resume-se a um sorrisinho bizarro e uma mesma expressão sempre. Sério, ela leva um chifre e faz a mesma cara; encontra o amor de sua vida, faz a mesma cara; discute com os pais e sofre por isso, e faz a mesma cara. Afe! Um doce para quem descobrir onde está a sintonia entre os dois atores, eleitos desde já como o casal mais FAIL do ano. E nem vou comentar sobre a péssima “atuação” da tenebrosa Alia Shawkat, mais conhecida da galera por seu papel em Arrested Development, que provavelmente saiu da fenda no Pacífico junto com os monstrengos de Círculo de Fogo.

Pois é, acho que deu pra entender. Num saldo geral, A Filha do Meu Melhor Amigo é uma sucessão de equívocos que nada acrescenta ao espectador. Quando você sai da sala de cinema, só consegue pensar a) pra quê?, e b) o que eu poderia ter feito de mais relevante nesta uma hora e meia que perdi da minha vida e que nunca mais vai voltar?. Três horas depois, nem lembra mais que assistiu.

E… a quem estou querendo enganar? Isso aqui é RUIM mesmo! Recomendação? Faça o mesmo que a Jennifer Lopez fez no filme em que apanha do marido, e o mesmo que eu provavelmente farei caso o Borbs apareça com mais um filmeco para resenhar: FUJA. :-)

THE ORANGES • EUA • 2011
Direção de Julian Farino • Roteiro de Ian Helfer e Jay Reiss
Elenco: Hugh Laurie, Leighton Meester, Catherine Keener, Oliver Platt, Allison Janney, Alia Shawkat, Adam Brody
90 min. • Distribuição: Imagem Filmes.

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